sábado, 6 de fevereiro de 2016

O paraíso perdido dos Wai wai no coração da Floresta Amazônica

"Wai wai não é apenas uma tribo de silvícolas ou povo indigente da floresta, muito menos possuem costumes antropofágicos. Eles são de fato detentores de uma linguagem que por muitas décadas foi vista como uma das raízes do idioma indígena brasileiro"

Os Wai wai, são perspicazes caçadores, povo de sorriso fácil e de fácil acesso quando se diz respeito a socialização com o homem branco, foi assim quando estiveram em contato, nos idos de 1840, o geógrafo inglês  Robert Schomburgk.
A tribo Wai wai tem sido constantemente noticiada em rede nacional pelos mais variados tipos de mídia, não por serem um povo desordeiro ou  trazer sempre um questionamento sócio político, mas pelo carisma que este povo tem em receber os mais diferentes tipos de pessoas que vem conhecer  a sua cultura, suas crendices e sua língua

A tribo wai wai não tem uma localização precisa, pois como as suas origens nos dão a conhecer, eles foram vistos pela primeira vez na  Guiana Inglesa e por conseguinte estes ou os  seus irmãos passaram para o lado brasileiro, fixando moradia nas terras do estado do Amazonas e Pará.



Estilo de vida- O jeito de ser o Wai wai é peculiar e organizado, sua moradia era do tipo comunal, ou seja, uma única oca que abrigava a todos os residentes e era sempre instalada próximo a um igarapé, em cima de uma área de terra levemente inclinada para facilitar a irrigação e a produção agrícola por vários anos, por assim vimos a organização deste povo. Seguiam uma hierarquia aonde o cacique era o governador, o pajé era o médico e o segundo em aconselhamento e, por conseguinte os mais velhos que ajudavam na administração da tribo.

Os índios que se identificam e são identificados como Wai wai encontram-se dispersos em extensas partes da região das Guianas. São falantes, em sua maioria e de linguística Karib. Constituíram-se a partir de processos seculares da troca entre redes de relações na região. Em tal rede, são historicamente reconhecidos como especialistas no fornecimento de sofisticados raladores de mandioca, papagaios falantes e cães de caça.
Têm fama até os dias de hoje de grandes viajantes em suas expedições em busca de enîhnî komo “povos não vistos”.
Os Wai wai estimam atualmente segundo o último senso cerca de 2.914 indios, distribuídos nos estados brasileiros do Amazonas, pará, Roraima e Guiana inglesa. Estes dominam além de sua língua nativa, a língua portuguesa (brasileira) e a língua inglesa. 


É muito comum encontra-los na Reserva Nhamundá-Mapuera, no oeste do Pará. Tinham por costume a troca de mulheres capturadas de outras aldeias, consideradas como troféus de guerra. Com a chegada dos holandeses que colonizaram o Suriname, antiga colônia nas Guianas, os índios estabeleceram este mesmo tipo de relação, trocando mulheres por artigos europeus. Os holandeses se utilizaram desta prática para conseguir com que os índios, ao invés de trazer mulheres, capturassem os escravos negros fugidos.
A era capitalista dos Wai wai
Todos os trabalhos são divididos, mas as mulheres passam a maior parte do dia entregues ao processamento da mandioca. Todas conhecem métodos anticoncepcionais para o equilíbrio populacional com o ambiente. São aplicados e sempre ocupados com algum trabalho. Fazem lindo artesanato que leva muitos dias ou até semanas para conclusão. Os homens são hábeis cesteiros onde incluem desenhos de animais ou traços geométricos. As mulheres se especializam em cerâmica e adornos de semente, miçangas e penas coloridas de pássaros.

Eles produzem para o comercio, fazem do seu oficio o meio de sobrevivência, não se usa tanto o dialeto mãe, mas foram encharcados e assolados pelos valores culturais do homem branco, o capitalismo é uma ferramenta que o novo Wai wai disponibiliza e não si importam em serem chamados de “modernos".
A tribo em consenso organizou-se em uma associação que os índios Wai Wai fundaram para comercializar a castanha do Brasil (castanha do Pará) extraído da floresta amazônica a preços mais competitivos. “Antes, a gente vendia para o primeiro atravessador que aparecesse na calha do rio e era ele que estipulava o valor do produto”, conta Genilson Wai Wai, presidente da Associação do Povo Ye´kuana do Brasil (APIW).  A entidade é formada por 106 famílias que moram nas reservas Wai Wai e Trombeta Mapuera, localizadas nos municípios de São Luiz, São João da Baliza e Caroebe, em Roraima.
A extração do fruto típico da Amazônia é uma tradição entre os índios Wai Wai. O problema estava na hora de comercializar o produto: os indígenas esbarravam na má vontade dos compradores, que alegavam desconformidade sanitária da castanha oferecida, como problemas de contaminação por bactérias. Sem alternativa, os Wai Wai acabavam vendendo a semente por um preço bem abaixo do mercado.
Para mudar essa realidade, o SEBRAE, por meio do programa Territórios da Cidadania, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário passaram a atuar em parceria na reorganização produtiva da extração e venda da castanha na região. “O projeto começou em 2010 e passou por três etapas. No ano de 2012, o preço pago pela saca de 50 kg subiu de R$ 50 para R$ 130”, conta Ariosmar Mendes Barbosa, analista-técnico e coordenador de Projetos Estratégicos do SEBRAE em Roraima.
As ações foram realizadas com base em três pilares: uso de tecnologia com implantação das boas práticas de manejo da castanha; melhoria da gestão com foco na organização comunitária e controle de custos, com adoção de modelo de compras coletivas; e parceria para a comercialização. O presidente da associação dos produtores reconhece que as mudanças exigiram esforço. “Foi difícil mudar os costumes que vêm de muito tempo”, relata Genilson.
Cuidados e tecnologia a serviço do índio
As mudanças começaram no primeiro estágio de produção, que requer cuidados antes, durante e depois da coleta do fruto na floresta. Os índios aprenderam como evitar a contaminação das amêndoas por fungos que provocam uma doença chamada aflatoxina, altamente tóxica e incidente em diversos alimentos como milho, amendoim, trigo, nozes, leite, aveia e feijão.
A contaminação pode ocorrer ainda na mata. Por isso, os índios foram orientados a limpar o solo em torno das árvores e a retirar os cipós que envolvem os troncos. Mas não é tudo. Depois de colhidas, as castanhas são lavadas e expostas ao sol para secagem. Só então estão prontas para a comercialização. “Esses cuidados garantem a qualidade sanitária e agregam valor ao produto”, afirma Ariosmar Mendes.

O segundo passo exigia organização. Sob orientação do SEBRAE, eles passaram a trabalhar no sistema de compras coletivas dos insumos, como combustíveis e sacas para armazenagem das castanhas. Segundo o presidente da APIW, “no último ano, a comunidade economizou 20% nos mais de dez mil litros de gasolina usados nos barcos que transportam a castanha”.
Porém, ainda faltava encontrar um comprador que valorizasse o trabalho dos indígenas. Esse obstáculo foi superado ao se instalar, na região, uma unidade da Palmaplan, indústria do Rio Grande do Sul que extrai óleo dos frutos da castanha-do-Brasil e do buriti para produção de cosméticos. 

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