Brasil quer emplacar o peixe pirarucu como o 'bacalhau da Amazônia'
Espécie nativa do bioma pode pesar até 250 kg e medir cerca de 3 metros.
O “gigante” dos rios amazônicos, com mais de três metros de
comprimento e até 250 kg, quer ganhar fama nas mesas brasileiras e, no futuro,
competir com os "parentes" nórdicos pelo título de melhor bacalhau do
mundo.
A carne do peixe é destinada à produção de bacalhau,
resultante de um processo de beneficiamento, que poderá ser utilizado em pratos
tradicionais que têm o pescado como ingrediente principal.
O gosto é parecido com o bacalhau comum, normalmente
importado da Noruega, de acordo com o chef gastronômico Felipe Schaedler, que
trabalha com a carne do pirarucu em um restaurante de Manaus. Ele disse ser
possível substituir o pescado "estrangeiro" pelo brasileiro
“Todas as receitas tradicionais podem ser feitas com o
pirarucu”, disse Schaedler, que já criou em parceria com outro chef ao menos
oito pratos com o bacalhau da Amazônia.
Consumo sustentável
Esta realidade só foi possível devido à implantação da
primeira indústria de salga de pescados no interior da floresta, em Maraã, a
635 quilômetros de Manaus (AM). A fábrica, a primeira da América do Sul, de
acordo com o governo do Amazonas, vai permitir uma produção em massa do
"bacalhau da Amazônia" e sua comercialização para outras regiões do
país.
Da primeira safra de pirarucus destinados à obtenção do
bacalhau (60 toneladas), o Grupo Pão de Açúcar adquiriu cinco toneladas que
serão vendidas a partir deste mês nas lojas dos supermercados Pão de Açúcar das
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
O preço do quilo ficará entre R$ 35 e R$ 39, um valor
competitivo se comparado ao bacalhau do Porto, por exemplo, que, em período de
promoção, a mesma pesagem custa R$ 34,90.
É o primeiro passo para difundir o produto pelo resto do
país, de acordo com Hugo Bethlem, vice-presidente executivo de Relações
Corporativas do grupo, que também abrange as redes Extra e Assaí. Segundo ele,
se o pescado “cair nas graças do consumidor", certamente haverá mais
pedidos de compra.
“Esperamos que, com o tempo e a continuidade do manejo
sustentável, consigamos elevar a venda deste pescado. Pode demorar um pouco,
mas já demos o primeiro passo”, disse ele.
O grupo, segundo Bethlem, importa anualmente 5 mil toneladas
de bacalhau, provenientes principalmente da Noruega e a rede é a terceira maior
compradora de bacalhau do mundo.
Sem impacto ambiental
De acordo com Eron Bezerra, secretário de Produção Rural do
Amazonas, uma nova unidade da indústria de salga deve ser inaugurada ainda este
ano em Fonte Boa, a 680 quilômetros da capital amazonense.
Segundo recomendações do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), a pesca do pirarucu pode ocorrer
apenas entre outubro e novembro, e em locais onde há atividades de manejo
regulamentadas.
A primeira safra voltada para a produção de bacalhau ocorreu
no ano passado e contou com 2.700 peixes que foram retirados de 37 lagos da
Reserva Mamirauá.
“Esses peixes, encaminhados para a indústria, geraram uma
renda de R$ 830 mil, valor que foi dividido por 530 pescadores. Isso ajuda a
melhorar nossa condição de vida. Antes, o que pescávamos era apenas para
alimentar minha família, meus filhos. Agora a gente consegue investir em uma
casa melhor, em um novo motor para os barcos”, disse Luiz Gonzaga Medeiros de
Matos, 47 anos, líder da colônia de pescadores de Maraã.
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