“Em Curuçá, a época da folia de momo é feita literalmente na lama, uma diversão com a fantasia mais barata do mundo. Um carnaval ecologicamente correto e um dos mais animados, na zona do salgado paraense”.
Um Carnaval ecologicamente correto, para toda a família
paraense com o abadá mais barato do Brasil. Esses são alguns dos principais
fatores que tem atraído todos os anos milhares de foliões para curtir o
Carnaval de Curuçá, município do nordeste paraense, distante 130 quilômetros da
capital, com cerca de 40 mil habitantes.
A tradição do Carnaval em Curuçá, no nordeste do Pará, é se
sujar: o bloco mais famoso da cidade, o "Pretinhos do Mangue", tem
como característica os brincantes com corpos cobertos de lama no lugar das
tintas e fantasias que são tradicionais na e´poca de Momo. Este "abadá
ecológico", mostrado pela Via Amazônia, atrai milhares de
brincantes.
Desde o início do domingo de carnaval é comum ver as pessoas
caminhando em grupos na mesma direção. A maioria chegando de outros municípios
e seguindo os caminhos da alegria e da esbórnia, saem em busca da
"fantasia ecológica". O "abadá" do bloco Pretinhos do
Mangue é a fantasia mais disputada do carnaval de Curuçá. Não é preciso pagar
nada, basta ter disposição de entrar e
se sujar de lama.
A preparação começa por volta das 15 horas, em frente ao
Porto Pretinhos do Mangue, que virou Patrimônio Cultural do Estado do Pará. Lá,
os brincantes se concentram e começam a se lambuzar com "tijuco",
como é conhecida a lama preta dos mangues. "Não adianta se lambuzar de
qualquer jeito. Tem que ter toda uma preparação. Começa pelo rosto e depois vai
espalhando pelo resto do corpo até ficar completamente sujo. Só o dente pode
ficar branco", ensina Edmilson Campos, que é um dos fundadores do bloco.
Centenas de foliões invadem uma parte do manguezal que fica
próximo ao centro da cidade. Eles andam entre as raízes da vegetação. Um ajuda
a passar lama no corpo do outro. A regra é que todo mundo fique da mesma cor.
O enredo é preservar o meio ambiente com a alegria para
salvar o caranguejo e outras espécies que dependem do mangue para sobreviver.
No ano passado, 2015, teve até a "ala dos guarás", ave vermelha
típica dos manguezais.
Fundado na terça-feira de carnaval de 1989, quando um grupo
de pessoas resolveu tirar o gosto da farra com caranguejo mas não encontrou o
petisco no mangue e resolveu voltar de mãos abanando, mas com o corpo inteiro
sujo de lama, como forma de “protesto”. A partir de então, nascia o bloco
Pretinhos do Mangue. A peculiaridade da cidade de interior e o povo
hospitaleiro colaboraram para que o bloco crescesse e ficasse conhecido nacionalmente.
Como acontece desde a sua fundação, o bloco sempre leva para as ruas a
importância da conscientização ambiental, principalmente com o respeito ao
seguro defeso, quando é proibida a captura do caranguejo para a reprodução.
Para facilitar a entrada de foliões caracterizados, a parte do mangue com
acesso mais fácil, conhecida como terê-terê, onde é possível mergulhar de forma
rápida e segura, é identificada aos brincantes. E assim todos caem na Folia,
respeitando e protegendo o Meio Ambiente, levantando com muita alegria a
bandeira da sustentabilidade e respeito à biodiversidade da Amazônia.
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