quarta-feira, 30 de março de 2016

Inpa desenvolve farinha de fígado de tambaqui com alto teor de ferro e maior absorção

"O resultado revela a importância da agregação de valor, buscando possibilitar o aproveitamento dos resíduos com alto valor nutricional."


As vísceras de peixe, que são jogadas no lixo, podem servir como fonte de ferro para fortificar alimentos – como biscoitos, sopas e pães - e combater a anemia, doença que atinge 40% da população mundial. Estudo realizado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) demonstrou que uma farinha produzida a partir do fígado do tambaqui (Colossoma macropomum) possui alta concentração de ferro e biodisponibilidade, que é a capacidade de absorção pelo organismo.

O ferro é um mineral essencial para o corpo humano. É utilizado para produzir hemoglobina, componente do sangue responsável pelo transporte de oxigênio, assim como mioglobina, que além de transportar, auxilia na reserva de oxigênio nas células musculares. A falta de ferro faz com que o organismo produza menos células vermelhas caracterizando o quadro de anemia, apresentando perda de apetite, diminuição da função imunitária, alteração de pele e mucosas, baixo peso, alterações gastrointestinais, alteração na função cerebral reduzindo o trabalho físico e mental.
Com o título “Aproveitamento das farinhas das brânquias e do fígado de tambaqui (Colossoma macropomum) como fonte de ferro: mito ou verdade”, o trabalho tem como autores os pesquisadores do Inpa Francisca das Chagas do Amaral Souza e Jaime Aguiar, vinculados à Coordenação de Sociedade, Ambiente e Saúde (CSAS). Os resultados da pesquisa foram publicados em janeiro deste ano na revista African Journal of Biotechnology.

Segundo Aguiar, mais importante que fortificar os alimentos com ferro é avaliar a biodisponiblidade do mineral no organismo. “Elevadas concentrações de ferro não resultam necessariamente em altas taxas de aproveitamento pelo corpo humano”, enfatiza.
O estudo teve como objetivo avaliar a biodisponibilidade do ferro em ratos alimentados com dietas à base da farinha de fígado e farinha de brânquias (guelras) de tambaqui. “Com base nos resultados apresentados, verificou-se que a concentração de ferro da farinha de fígado de tambaqui é altamente biodisponível (absorvida) pelo organismo”, explica Souza, que é doutora em Biotecnologia.
A concentração de ferro na farinha de fígado está em torno de 86,74mg /100g, que é superior a farinha de pulmão, com 46,92 mg/100g. Conhecido como bobó ou bofe, o pulmão de boi é mais consumido no Nordeste. Para a farinha de brânquia, o ferro foi de 25,78mg/100g e de baixa biodisponibilidade, não recuperando a concentração de hemoglobina dos ratos anêmicos.

Conforme Aguiar, a farinha de brânquia caracteriza-se como uma estrutura de alta concentração de lipídeos (gordura) e proteínas. Ele explica que a hemoglobina (pigmento vermelho no sangue) obtida nos primeiros dias para os grupos estudados com as farinhas de brânquias e de fígado não apresentou diferença significativa, mas depois de uma semana sim. “Com sete dias de experimento, apenas o grupo experimental do fígado de tambaqui recuperou a concentração de hemoglobina quando comparado aos demais grupos”, contou.  
Os resultados demonstrados no estudo, principalmente a utilização da farinha de fígado como fonte de ferro, revelam a importância da agregação de valor, buscando possibilitar o aproveitamento dos resíduos com alto valor nutricional, visando o controle de carências nutricionais.

Deficiência Nutricional
Segundo a pesquisadora do Inpa, a nutricionista Dionisia Nagahama, a anemia ferropriva é uma das deficiências nutricionais mais representativas, estando presente em diferentes classes sociais e condições socioeconômicas. No Brasil, é considerada a deficiência mais prevalente e se destaca pela freqüência e efeitos.
“Em crianças menores de cinco anos, a falta de ferro pode provocar retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento da imunidade, menor capacidade intelectual ou menor potencial cognitivo que permanece a vida toda, podendo ser, portanto, irreversível, mesmo com o tratamento”, explica a nutricionista.
Por Luciete Pedrosa (texto e foto) – Ascom Inpa




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