"O município decretou situação de emergência por conta dessa catástrofe"
A seca que tem sido registrada
neste ano no Amazonas já causou a mortandade de milhares de toneladas de
peixes. A cidade amazonense de Manaquiri, a 60 km de Manaus, é considerada uma
das áreas mais críticas. Mais de 25 mil toneladas de peixes foram encontradas
mortas somente em uma faixa de 100 km de extensão entre a boca do Paraná do Manaquiri, que é um
afluente do rio Solimões, até a comunidade de Araçatuba.
Segundo o Sindicato de Pescadores
(Sindpesca) de Manaquiri, responsável pela divulgação dos dados, o cálculo da
mortandade foi feito com apoio técnico do Instituto de Desenvolvimento
Agropecuário do Amazonas (Idam). O número foi aferido com base em amostras de
peixes por metro quadrado, mais a pesagem para multiplicar pela área total. O
Sindpesca considera a vazante de 2015 uma das mais severas dos últimos seis
anos.
Manaquiri é um dos municípios que
enfrentam transtornos e dificuldades em razão da seca do rio na região do Baixo
Solimões. No último fim de semana, uma comitiva formada pelo Sindpesca, colônia
de pescadores e de técnicos do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e
Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) reuniram dados para
dimensionar a situação.
Segundo o presidente do Sindpesca
de Manaquiri, Joceni Oliveira, o grupo percorreu uma faixa de aproximadamente
100 km, entre a boca do Paraná do
Manaquiri, que é um afluente do Rio Solimões, até a comunidade de Araçatuba. Ao
longo do caminho, o grupo se deparou com uma quantidade assustadora de peixes
mortos.
"Mapeamos as comunidades e
foram encontradas 25 mil toneladas de peixes mortos. Para calcular esse
quantitativo, recolhemos amostras de peixes que estavam em um metro quadrado. O
pescado foi pesado e serviu de base para multiplicar pela área total. Cada
metro quadrado tinha média de 12 kg de peixes. Não é de admirar se esse número
for maior, pois imagine você percorrer mais de duas horas de rios e lagos e
enxergar só peixe morto como nós vimos? ", explicou.
Dentre as espécies encontradas
mortas estão: aracu, tucunaré, surubim, sardinhas e branquinha. A pouca oxigenação das águas, que estão mais
quentes com o nível baixo em decorrência da vazante dos rios e pela falta de
chuvas, é causa da mortandade dos peixes.
"A espécie mais resistente é
o bodó porque ele sobe até a margem para poder respirar, depois mergulha pela
lama e consegue sobreviver. Porém, as espécies mais vulneráveis e mais fracas
não conseguem", relatou o líder dos pescadores.
Prejuízos socioambientais
A falta de infraestrutura para
armazenamento do pescado impede os pescadores de conseguir grandes quantidades
de peixes, o que reduziria o desperdício no período da seca. O processo de
decomposição dos peixes também tem deixado impróprio para o consumo o pescado
sobrevivente.
"Nosso maior clamor, em um
momento como esse, é mais estrutura para armazenamento do pescado. As
embarcações do município têm uma capacidade muito pequena e não conseguem
armazenar. Os pescadores não têm como buscar gelo em Manacapuru ou em Manaus
porque ficam isolados por causa no nível das águas. Se houvesse maior
sensibilidade por parte dos órgãos públicos para assistir essas pessoas, pois é
um problema socioambiental e econômico", enfatizou Joceni Oliveira.
O prejuízo estimado, somente no
trecho do afluente do Solimões, chega a R$ 2.802.120,00. O problema afeta,
diretamente, 889 pescadores e 987 famílias. que moram em 27 comunidades
ribeirinhas somente em Manaquiri, de acordo com o Sindpesca.
"A população tem dificuldade
com água porque está imprópria para consumo humano. As mais de 900 famílias
sofrem com a situação. O município decretou situação de emergência por conta
dessa catástrofe. Essa mortandade é mais um resultado do desequilíbrio da
natureza. São desequilíbrios anunciados e previstos", afirmou Oliveira.
De acordo com o presidente do
Sindpesca do Amazonas, Ronildo Nogueira, esse problema acontece em quase todos
os municípios do Amazonas. A situação é mais crítica em Manaquiri, mas, lagos
também têm registrado a mortandade expressiva de peixes. A entidade ainda não
tem um levantamento geral sobre a situação.
Sem Seguro-Defeso
A suspensão do pagamento do
seguro-defeso agravou ainda mais a situação das famílias que se sustentam por
meio da pesca. Sem a assistência temporária financeira de um salário-mínimo por
mês concedido ao pescador, as famílias enfrentam dificuldades para alimentação
nesse segundo semestre de 2015. "A situação é crítica. Primeiro pelo não
pagamento do seguro-defeso e segundo pelos peixes vivos que estão impróprios
para o consumo", comentou Joceni.
As entidades sindicais criticam a
medida do governo federal e alegam que a categoria não é contrária ao
recadastramento. "Os pescadores não são contra o recadastramento. Sabemos
que existem erros, mas não são das entidades ligadas aos pescadores. Temos todo
cuidado de mapear e saber onde o pescador mora", enfatizou o presidente do
Sindpesca de Manaquiri.
O G1 enviou solicitação à
Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror-AM) para saber se será destinada
alguma assistência às famílias afetadas. Até o momento da publicação desta
reportagem, o órgão não enviou resposta.
Adneison Severiano, Do G1 AM
Nenhum comentário:
Postar um comentário