terça-feira, 13 de outubro de 2015

HENRY FORD. O sonho do maior capitalista do mundo em ruínas em plena floresta Amazônica

As cidades de Fordlândia e Belterra são testemunhas de um verdadeiro fiasco do capitalismo norte americano acontecido na década de 20, na região do Tapajós. Saiba por quê.


No começo do século XX, as linhas de produção de Henry Ford construíam carros a uma velocidade jamais vista. Todos aqueles carros precisavam de pneus, e na época a borracha ainda era derivada das seringueiras do Sudeste Asiático. Para manter a eficiência de sua produção sem depender dos asiáticos, Ford decidiu ter sua própria produção de borracha para pneus, e para isso construiu uma cidade tipicamente americana em plena Amazônia, batizada de Fordlândia.
A história de Fordlândia começou em 1927, quando Henry Ford adquiriu um terreno de quase 15.000 km² às margens do Rio Tapajós, no Pará. Anos antes, o departamento de comércio dos EUA haviam feito um estudo de viabilidade de cultivo de seringueiras no Brasil com resultados positivos. 
Da vontade em construir um mega projeto capitalista até sua quase realização, foram gastos vários milhões de dólares. A conta como sempre, foi paga ao final da traumática experiência pelo governo brasileiro. Fordlândia ficou em ruínas, Belterra, como se não bastasse, luta com uma crise política, onde dois candidatos, Dilma Serrão e Dr. Macêdo, lutam para ter o direito de serem prefeitos da cidade recém-emancipada, mesmo sem esclarecer os projetos que tem, caso assumam o poder municipal. 
Fato é que depois de muitos anos, é possível encontrar cenas de um pesadelo capitalista no meio da floresta, em duas cidades, Fordlândia e depois Belterra, hoje em ruínas, onde Henry Ford sonhava que um dia vingasse seu sonho de brilhar economicamente. Ruínas urbanas que parecem ter saído dos subúrbios dos Estados Unidos, com casas pré-fabricadas, cinemas, hospitais e escolas. E, de certa forma, foi isso que aconteceu: no final da década de 20, Henry Ford tentou construir no Brasil uma espécie de Detroit, cidade norte-americana cuja principal foco era a indústria automobilística.
Para isso, Ford comprou quando deveria receber, um latifúndio de 1 milhão de hectares ás margens do rio Tapajós, a cerca de um dia e meio de viagem de barco de Santarém, no Pará. A “cidade” planejada pelo empresário deveria abrigar milhares de trabalhadores brasileiros e estrangeiros, além de servir como fonte de látex para a produção mundial da companhia. Porém, planejada segundo a “visão” do próprio Ford, que enxergava Fordlândia em altos padrões, quando na verdade era mais atrasada que uma cidade do faroeste americano. Assim, o “big” projeto acabou falhando.
Sem paciência para ouvir técnicos ligados ao meio ambiente ou biólogos que pudessem mostrar as verdadeiras condições de realização de seu projeto de plantar seringueiras e fabricar borracha para sua famosa indústria de automóvel em Detroit, o projeto da Fordlândia começou errado. Sem saber que poderia negociar terras diretamente com o governo brasileiro — e consegui-las gratuitamente.
Vivaldo e espertalhão, o produtor rural Jorge Dumont Villares, conseguiu junto com o então governador do Pará Dionísio Bentes uma concessão de uma grande porção de terra para cultivar seringueiras. Tudo de graça. Mas a ganancia falou mais alto, quando soube que Henry Ford procurava uma região para construir sua cidade no Brasil, Villares ofereceu suas terras a ele por um valor equivalente a quase R$ 3 milhões atualmente. O problema é que o terreno comprado era montanhoso demais, sem contar que era também inapropriado para o cultivo de seringueira.
Mesmo assim, Fordlândia começou a ser erguida em meio à floresta e o projeto foi sendo estruturado. Madeira, telhas e até mesmo as mudas das seringueiras foram trazidas dos EUA de navio. Pessoas do Brasil todo seguiam para o norte do país na expectativa de um emprego na cidade de Ford, mas nem todos eram aceitos, visto que o exame médico era bastante rigoroso. Mesmo assim, muita gente sem experiência foi contratada, o que causou desqualificação quase completa da mão de obra.

O Eldorado capitalista- A cidade do industrial no Tapajós possuía vilas para administradores, com campo de golfe, cinema e piscina para funcionários. Além disso, ali também se encontrava um dos melhores hospitais da região e, como se não bastasse, o salário era pago em dia e no “cash”, em dinheiro vivo, o que incentivava aos colonos.
Mas como dizem, dinheiro não é tudo. Com o passar do tempo, os funcionários começaram a ficar insatisfeitos com regras que, na época, eram novas para os trabalhadores, como relógios de ponto, sirenes e regras de comportamento que desmotivavam a permanência no local. 
Protestos contra as “american food”- Fordlândia foi palco de protestos no mínimo curiosos. Cansados da alimentação à moda americana, a base de sucrilhos, espinafres, e pickles, os funcionários acostumados a comer piracuí, tambaqui, feijão, galinha caipira, charque assado, e muita farinha, se rebelavam e prometiam greve, caso a empresa continuasse a servir “american food”.
Além desses problemas, as seringueiras, sem acompanhamento técnico, foram afetadas por um fungo que se espalhou rapidamente. A explicação é que em seu habitar natural, as florestas, as seringueiras crescem com mais espaçamento entre elas e, portanto, as pragas não se espalham com facilidade. Mas os americanos plantaram as árvores muito próximas uma das outras, de maneira semelhante ao plantio de eucalipto.
Como senão bastasse, foi inventada a borracha sintética, fato que ingrisilhou os planos da empresa, já que grandes potências começaram a trocar a borracha natural por essa “artificial”. A Companhia Ford ainda tentou realocar as plantações em Belterra, onde foi construída uma segunda cidade, mas em 1945, com o surgimento da borracha sintética — feita com derivados de petróleo — o empreendimento já não havia mais razão de existir e foi cancelado pelo presidente da companhia, Henry Ford II.
Quem paga a conta? O governo brasileiro.


No total, Ford e seus executivos teriam gasto cerca de meio bilhão de reais no projeto. Ao final da trágica “aventura” dos norte americanos no Tapajós, o Governo Brasileiro indenizou a Ford em aproximadamente US$ 250.000, e ainda assumiu as dívidas trabalhistas com os funcionários. Em troca, recebeu seis escolas (quatro em Belterra e duas em Fordlândia); dois hospitais; estações de captação, tratamento e distribuição de água nas duas cidades; usinas de força; mais de 70 quilômetros de estradas; dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; um departamento de pesquisa e análise de solo; e a plantação de 1.900.000 seringueiras em Fordlândia e 3.200.000 em Belterra. Hoje, em Fordlândia as instalações se encontram abandonadas e sofrem saques e desmanches constante enquanto aguardam o tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em Belterra, foi construída a “Casa número Um”, onde dizem que Ford descansava, quando de verdade o industrial sequer chegou a botar os pés na região do Tapajós. Mais uma nuvem de ilusão e mito que envolve Henry Ford em sua visão de construir sua Detroit particular, bem no coração da Floresta Amazônica.

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