sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Tapajós Ameaçado Part. 2

Construção de hidrelétrica vira pesadelo para quem vive do rio

Sem energia elétrica, diversas etnias indígenas viveram na Floresta Amazônicas por vários séculos. Ainda hoje existem várias aldeias às margens dos rios Juruena, Teles Pires e Tapajós
Gente que sempre viveu da floresta e do rio. A Vila Rayol é uma pequena comunidade onde vivem 40 pessoas de uma mesma família. Gente de vida simples. Moradores de casas de taipa. Gente que possui a própria escola para poucos alunos. Brasileiros que vivem sem energia elétrica até hoje, mas não trocam essa vida por outra.
“Aqui está bom para mim. Estou aqui há muito tempo”, reforça o pescador Sebastião dos Santos.
Para eles, a construção da usina de São Luiz é quase um pesadelo. “O medo da gente não é do rio secar, não é do rio em si. É de a gente ficar à toa”, teme o pescador Francisco Pires da Silva.
Sem energia elétrica, diversas etnias indígenas viveram nessa região por vários séculos. Ainda hoje existem várias aldeias às margens dos rios Juruena, Teles Pires e Tapajós.
“A gente está preocupado, porque a gente não tem para onde ir. É tudo tão fácil para nós. A gente pega um peixe, é fácil. E quer fazer uma rocinha, tem o lugar para fazer”, desabafa o índio apiacá Ovídio Pereira.
Desses índios, muito pouco se conhece da história. Assim como as folhas das árvores escondem os pássaros, as folhas secas, mortas no chão, às vezes escondem também a história. Afastando uma camada superficial, encontramos uma terra escura, que os arqueólogos chamam de terra preta arqueológica. É um indicativo de que toda a área já foi uma aldeia indígena. Cavando um pouco, encontramos cacos da história, pedaços de vasos, alguns decorados e outros utensílios. Difícil saber qual etnia indígena existia no local, já que a região tem índios tapajós, mundurucus, caiabís e apiacás. É provável que uma árvore enorme que existe no local não existia quando os índios estavam ali.
Até agora, já foram encontrados nessa região 26 sítios arqueológicos. A construção das barragens vai afetar os índios remanescentes e também a história deles.
“As informações passadas para nós é de que 90% vão ficar embaixo d'água”, alerta José Sales de Souza, chefe substituto do Parque Nacional da Amazônia.
Madrugada na Floresta Amazônica. Em um alagado, troncos secos parecem sem vida. Na verdade, abrigam uma espécie que pode ser considerada a mais brasileira das aves. Quando o dia ainda não é dia e a noite não se foi totalmente, decolam. Assim, as ararajubas iniciam o dia. Evitam os predadores diurnos e noturnos, no momento em que são mais lentas. E, em segundos, desaparecem pela floresta. Fora do período de reprodução, passam o dia inteiro na mata se alimentando.



Diversidade de animais ajuda a manter a Floresta Amazônica viva

Os macacos e os passarinhos ingerem sementes que são espalhadas pela floresta. Sem saberem, ajudam na preservação da mata
Quanto tempo a natureza levou para formar uma floresta. E quanta água é necessária para regá-la. Temporais na floresta são sempre de impressionar. Surgem de repente e, da mesma forma, se desfazem. Com um milhão de hectares, o Parque Nacional da Amazônia é uma das reservas mais importantes do país. Ninguém sabe ao certo quantas espécies vivem no lugar.
A floresta, com toda a variedade de árvores, oferece alimento para todos os meses do ano. Os macacos só precisam procurar. Quando os cairaras comem, ingerem sementes que são transportadas e voltam para o solo em outras áreas já adubadas com as fezes. Ou seja, os macacos não sabem, mas, ao dispersarem sementes, ajudam na renovação da floresta.
Essa dispersão também é feita por várias espécies de aves que regurgitam ou defecam sementes. Algumas delas só germinam após passar pela digestão nas aves. Esses são exemplos que mostram que as partes sempre colaboram para o todo. A diversidade da vida trabalha sempre pela unidade. Na equilibrada teia da vida, todos estão ligados. Cada parte depende de outra. Se uma é afetada, o efeito segue em cascata. Nós, humanos, não nos excluímos disso.
“A primeira coisa que acontece quando há um barramento, cobre uma quantidade de matéria orgânica muito grande. Essa sedificação vai fazer desaparecer uma quantidade muito grande de espécie de plancto que serve de alimento para larvas de peixes e outros peixes que se alimentam também de insetos aquáticos, que são vetores de doenças como, por exemplo, a dengue, malária e muitas outras”, explica o pesquisador Paulo Ceccarelli. Ou seja, tirando o plancto, diminui-se a quantidade de peixes e a proliferação de mosquitos pode aumentar. “Muitas doenças vão chegar à cidade.”
A vida é equilibrada. Mas, antes de tudo, sensível.

Peixes enfrentam obstáculos criados pelas barragens para migrar

A estimativa é de que no Rio Jamanxim, um grande afluente do Tapajós, existam cerca de 400 espécies de peixes
A estimativa é de que na região existam cerca de 400 espécies de peixes. Do alto, tudo parece fácil. Já por terra, haja esforço. Nos igarapés, os pesquisadores lembram garimpeiros.
Pouco a pouco, nas redes e peneiras, aparecem as joias do rio sempre bem vivas. Peixes do tamanho de uma unha. Outros, transparentes. Alguns nem mesmo são conhecidos.
Com as barragens, mesmo com a construção de escadas para a subida dos peixes, muitas espécies não conseguem alcançar a parte de cima do rio. Os peixes de escama são capazes de saltar cachoeiras naturais, mas os peixes de couro procuram canais para subir pelo fundo do rio e alcançar a parte de cima. Essa é uma condição que usina nenhuma consegue reproduzir. O resultado é que muitas espécies ficam condenadas a desaparecer.
“O ideal seria que essas barragens não existissem mais. O fato é que o país necessita dessa geração de energia. Esse processo se agrava tremendamente quando consideramos esta sucessão de reservatórios em um ecossistema. Esses estudos são fundamentais dentro da ideia de buscar minimizar esses impactos”, ressalta Laerte Batista Alves.
Reservatórios de usinas no Norte ocuparão área 3 vezes maior que São Paulo
Todo rio nasce pequeno, cresce e segue para o mar. Para se produzir energia, é preciso barrar essa sequência natural. O Rio Tapajós é um dos mais bonitos da região amazônica. No local, vai ser construída a usina de São Luiz, uma das 22 usinas previstas para região Norte até o ano de 2019. Represar rios com barragens pode trazer desenvolvimento, mas tem dois custos: um econômico e outro ecológico que ninguém consegue calcular. Só a construção desta usina vai alagar parte de uma reserva, o Parque Nacional da Amazônia.
A construção de usinas nessa região começa nos rios que formam o Tapajós. No Teles Pires estão previstas quatro. No Juruena, cinco. No Tapajós, três usinas: Jatobá, São Luiz e Chacorão. E no Rio Jamanxim, mais quatro. Os reservatórios dessas usinas, se somados, vão ocupar uma área de cerca de cinco mil quilômetros quadrados. Praticamente três vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

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