VELHO MANÉ GRIGÓRIO
Dalcídio Jurandir, Poeta Marajoara
A febre do Arari matou meu amigo
Mané Grigório…
Mané Grigório me contava
histórias
De fazendeiros ricos e honrados
Que iam, de noite, marcar o gado
Das “fazendas” nacionais…
Aquela sua mão dura como o couro
Quebrou muito boieco nos dias de
ferra!
Peiou garrotes que faziam medo
pro “seu” Guimar!
Curou bicheira dos bezerros
E puxou peito de vaca braba como
onça,
Que enchia as cuias de leite espumoso,
Gostoso como luar na noite quieta
da gente, trepada nos paus da
porteira,
comer carne com pirão de leite
e ouvir histórias da Mãe de Fogo…
Mestre das Malhadas,
Chefes dos embarques,
Chefão na condução
Sarado na castração!
Novilho ergue a cabeça na ponta
do gado
Vera, diabo, vera!
Que nada, é teimoso!
Trepida o alazão nas terroadaias
Atrás do novilho!
Velho Mané Grigório finca o pé no
vazio do seu cavalo
e laça o bruto só na mão virada!
Vaqueiro de brio, feitor como
poucos
Lhe dessem a fazenda pra tomar
conta
O gado aumentava que nem um
milagre!
Cansado, já velho, fez um chalet
em Cachoeira…
Era longa a sua carreira!
Fazia, devagar, no remanso das
tardes,
Os relhos e esticando as cordas
com seus netos
Contava pra gente histórias
Ferras!
Embarques!
Malhadas!
Patrões unhas de fome
Brancas de estimar…
Velho Mané Grigório:
Você foi um santo de tanto
vaqueirar!
S. Sebastião lhe deu o lugar que
merece,
Muito bezerro chorão pedia por
você quando ficava
{ bom das bicheiras…
Você que rezava pro santo na
tiração das esmolas.
Beijava, benzendo-se, as fitas
azuis, verdes, cor de rosa
{do santo…
S. Sebastião, S. Sebastião, santo
dos vaqueiros!
O senhor bem sabe a fama do velho
Mané Grigório
por estes campos, S. Sebastião!
Dalcidio Jurandir, Poema escrito
em 1932, Jornal Cachoeira Nova
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