“Pela atual legislação brasileira, o uso do telefone celular é proibido em todas as fases do voo e também no pátio do aeroporto, no trajeto entre as salas de embarque/desembarque e a aeronave, sendo permitido a bordo do avião quando o mesmo está no solo, com as portas abertas e os motores desligados. Saiba por que”
Para se entender a proibição do
uso do celular a bordo, é preciso entender primeiro o que é um telefone
celular. Ele nada mais é do que um sofisticado aparelho de rádio, que recebe e
transmite ondas eletromagnéticas de e para antenas no solo, cada uma delas
capaz de receber e retransmitir sinais, com alcance limitado a uma determinada
área, denominada célula, daí o nome de telefone celular (em Portugal, chama-se
telemóvel).
As ondas eletromagnéticas
recebidas e transmitidas pelos aparelhos estão em diversas faixas de
frequência, na banda denominada UHF (Ultra High Frequency - Frequências Ultra
Altas), mais precisamente nas frequências de 415 MHz, 900 MHz e 1,8 GHz, com
pequenas variaçãoes entre as diversas regiões do mundo, isso para o sistema
digital.
Mesmo em modo de espera
(stand-by), os aparelhos se comunicam frequentemente e automaticamente com as antenas de terra,
para manter o contato com a rede. A potência de transmissão do aparelho varia
automaticamente com a distância entre o telefone celular e a antena de terra.
Pode variar entre 20 miliwatts até 3 watts. Quanto mais distante a antena, mais
potência é requerida para que a comunicação seja estabelecida e mantida.
Isso pode ser facilmente
percebido por qualquer usuário de telefone celular. Quando o mesmo é utilizado
dentro da área urbana, próximo das antenas, a bateria dura muito mais tempo,
pois uma potência muito baixa é exigida para estabelecer a comunicação com uma
antena. Mas quando o celular é utilizado em uma viagem, por exemplo, a bateria
esgota sua carga rapidamente, pois o aparelho tem que transmitir com maior
potência para estabelecer contato com uma antena mais distante.
A possibilidade de uma onda
eletromagnética transmitida por um celular interferir em algum sistema do avião
é tanto maior quanto maior for a potência do sinal, e aí é que pode ocorrer
algum problema, pois um avião em voo quase sempre estará muito distante das
antenas. Na maior parte das vezes, na verdade, estará fora do alcance das
mesmas. Mesmo assim, um aparelho em stand-by emitirá sinais continuamente, na
máxima potência possível, tentando encontrar uma antena, pois foi projetado
para isso.
Outra questão importante
refere-se ás frequências utilizadas pelos sistemas de telefonia celular e a
transmissão de dados, tanto por ondas eletromagnéticas tanto por cabos, dentro
de uma aeronave ou entre a aeronave e o solo. Obviamente, a faixa de
frequências utilizada nos celulares não é a mesma utilizada para transmitir
dados entre os computadores do avião ou para os seus sistemas de navegação.
Teoricamente, não deveria haver
interferência, pois os sinais são transmitidos em frequências precisas e
devidamente autorizadas e certificadas. Na prática, porém, as coisas são muito
diferentes, devido à existências das ondas harmônicas. Uma onda harmônica é
gerada em frequências que são múltiplos inteiros da frequência fundamental. Ou
seja, um aparelho que transmita uma onda eletromagnética de 20 KHz também vai
transmitir ondas harmônicas de 40 KHz, 60 KHz, e assim por diante, embora mais
fracas que a onda da frequência fundamental.
Eventualmente, a frequência de
uma dessas ondas harmônicas pode coincidir com um sinal de rádio comunicação ou
rádio-navegação do avião, causando interferência ou fading do sinal, tendo o
resultado prático de perturbar a comunicação ou causar erros na navegação, o
que pode ter um efeito potenciamente desastroso.
A interferência não está restrita
às ondas eletromagnéticas que viajam pelo ar. Um cabo lógico utilizado para
comunicação entre diversos sistemas da aeronave pode funcionar como uma antena,
captando uma onda eletromagnética de um celular ou suas harmônicas, interferindo na informação conduzida por esse
cabo.
Se pensarmos que grande parte das
aeronaves atualmente fabricadas possuem comandos de voo primários operados por
computador e cabos lógicos, fica evidente a extensão dos problemas que um
aparentemente inocente celular pode, potencialmente, causar em um avião.
Até hoje, não se conhece nenhum
acidente que, comprovadamente, tenha sido causado por interferência eletrônica
de aparelhos celulares, embora haja um bastante suspeito: em 11 de dezembro de
1998, um Airbus A310, operando o voo 261 da Thai Airways, da Tailândia, caiu
quando tentava pousar, pela terceira vez, no aeroporto de Surat Thani, Bangkok.
A grande quantidade de aparelhos celulares encontrados nos destroços, muitos
ainda ligados, levaram à suspeita de que os aparelhos estivessem sendo usados
pelos passageiros para avisar seus familiares que o voo estava atrasado.
Da redação/ Infográfico Roberto Santos
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