"Um peixe pequeno e de cores vibrantes. Conhecido na região de Tefé, no Amazonas, como cará-remo, esse pequeno peixe tem sido bastante valorizado no mercado de ornamentais".
Cará-remo macho, a espécie é
conhecida na região pelo valor como peixe ornamental |
Visando gerar mais informações
sobre a biologia reprodutiva dessa espécie, uma pesquisa científica foi
realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Amanã. Um dos principais resultados do estudo,
realizado com apoio do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação, foi a identificação de uma orientação quanto ao
tamanho mínimo de captura da espécie, estimada pelos pesquisadores de 2,5cm.
O estabelecimento de uma
orientação em relação ao tamanho mínimo de captura, com base em informações
obtidas por meio de pesquisa científica, contribui para a permanência dos
estoques da espécie em determinada região. “Consideramos que a partir desse
tamanho, de 2,5cm, pelo menos 50% da população já reproduziu pelo menos uma
vez”, disse a pesquisadora associada do Instituto Mamirauá, Jomara Oliveira.
Danielle Pedrociane, pesquisadora
do Instituto Mamirauá, destaca que os parâmetros reprodutivos, como o tamanho
mínimo de captura, são muito relevantes para estabelecer ações de manejo.
“Através deles, podemos conhecer em que época do ano eles desovam e o tamanho
que podemos retirá-los da natureza. Dessa forma, estamos protegendo a população
e permitindo que novos indivíduos (peixes) nasçam e a população seja renovada”,
afirmou.
A pesquisadora do Instituto
ressalta que a espécie está na lista das espécies potenciais para manejo na
Reserva Amanã, e aparece na lista oficial do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A legislação brasileira
autoriza sua captura, transporte e comercialização como peixe ornamental.
Machos e fêmeas da espécie
estudada (Apistogramma agassizii) são bem diferentes, de acordo com Jomara,
principalmente em relação ao tamanho e coloração. Os machos são maiores, com
cerca de 24mm, enquanto as fêmeas têm tamanho de cerca de 22mm. Em período reprodutivo,
os machos apresentam cor azulada e as fêmeas amarelada. Jomara ressalta que
buscar mais conhecimentos sobre a biologia reprodutiva dessa espécie é
importante em função do seu potencial como peixe ornamental.
“Através dos dados, observamos
que havia uma maior proporção de fêmeas nos ambientes da Reserva Amanã quando
comparado com o Lago Aningal da Reserva Mamirauá. Acreditamos que isso esteja
relacionado à pressão seletiva de pesca sobre os machos, que apresentam maior
interesse comercial do que as fêmeas. As informações da pesquisa são repassadas
em relatórios para o ICMBio e esperamos que sejam usadas para legalização da
pesca e manejo”, disse Jomara.
Outra contribuição do estudo foi
sobre o período de reprodução da espécie. Apesar de ter sido observado o pico
de reprodução, a pesquisadora infere que o cará-remo possui grande renovação da
população ao longo do ano. “A espécie se reproduz durante o ano inteiro, o que
se torna um importante dado para uma espécie que apresenta interesse ornamental,
sugerindo que a sobrepesca não se tornaria um risco para a população dos
ambientes estudados”, disse.
As expedições de campo para
coleta dos animais aconteceram bimestralmente entre os anos de 2011 e 2012 na
Reserva Mamirauá e 2013 na Reserva Amanã.
A pesquisadora Jomara Oliveira em
atividade de campo. © Jonas Oliveira
|
Foram analisados a relação peso
total e do comprimento padrão, a proporção sexual, o comprimento de primeira
maturação, o período reprodutivo, o tipo de desova, entre outras características. “Observamos que a espécie apresentou
indivíduos nas diferentes fases de desenvolvimento ao longo período estudado,
apresentado que 70% da população era adulta, o que indica que o estoque da
população é constantemente renovado. Observamos também que a atividade
reprodutiva da população aumentou durante os períodos de enchente e cheia, já
que durante esses períodos aumenta a oferta de alimento e abrigo”, completou a
pesquisadora.
A pesquisa foi realizada como
projeto de mestrado de Jomara, pelo Programa de Biologia de Água Doce e Pesca
Interior do Instituto Nacional de Pesquisas do Amazonas (Inpa), com apoio do
Instituto Mamirauá, e recursos para financiamento de bolsa da Coordenação de
Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes).
Texto: Amanda Lelis/ Fotos: Jonas
Oliveira
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